Caroline Lanhi | Gcom-MT
Maria Anffe (Gcom-MT)
Seo Deli e dona Maria não são amigos nem parentes, mas têm muito em comum: passaram dos 70 anos e há uma década convivem com catarata. Com o tempo, foram obrigados a abrir mão das atividades que mais gostavam e convivem com a aflição de não poder enxergar como antes. A partir dessa terça-feira (24.01), essas duas histórias terão mais um ponto em comum: o acesso à cirurgia por meio da Caravana da Transformação.
Eles estão entre os 1.040 cidadãos que procuraram o programa no primeiro dia da quarta edição, realizada em Jaciara (144 km ao Sul de Cuiabá). Até 03 de fevereiro, o programa atenderá pacientes de 19 municípios da região.
O primeiro a ser atendido pela equipe do programa, formada por voluntários, médicos e enfermeiros, foi o aposentado Deli Monteiro, de 72 anos. Há uma década a catarata afetou seus dois olhos e o impede de fazer aquilo que gosta: trabalhar com construção civil. Pedreiro a vida toda, Deli conta que hoje em dia mal consegue assentar piso.
Apesar de conviver com a catarata há tanto tempo, faz um ano que entrou para a fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar a cirurgia. Chegou a fazer todos os exames necessários, mas ainda não havia sido chamado. Este mês, ficou sabendo pelo rádio que a Caravana estaria na cidade e tratou logo de procurar a Secretaria de Saúde do município para checar a veracidade da informação.
A ansiedade era tamanha que Deli foi para o local do evento às 18h de segunda-feira (23.01), 11 horas antes do necessário, já que os atendimentos iniciaram às 6h desta terça-feira. Ele explica o motivo. “De onde eu venho é tradição chegar cedo aos lugares, meu pai me ensinou isso”. Assim que voltar a enxergar nitidamente como antes, Deli diz que só vai orar. “Vou agradecer a Deus pela vida dos médicos e pela oportunidade que tive”.
A expectativa de enxergar melhor
Quem também convive com catarata há 10 anos é Maria Abadia dos Santos, de 79 anos. Costureira e dona de casa, Maria sente falta da época que conseguia lavar a louça sem quebrar os copos, do tempo que costurava as próprias roupas e ainda fazia pequenos reparos nas roupas dos vizinhos. “Gostava de lavar os panos de prato e deixar tudo branquinho, mas agora não consigo ver se está limpo”, conta.
Hoje, além da dificuldade para executar os pequenos afazeres domésticos, ela tem medo de circular pelo bairro e cair. Já caiu uma vez e ficou com uma lesão no tornozelo, agora não quer mais correr riscos.
Na fila do SUS há cinco anos, ela está ansiosa para recuperar a visão. Praticamente não dormiu na noite que antecedeu a Caravana, mas garante que não está com medo, apenas na expectativa. E o que vai fazer assim que estiver recuperada? Costurar, é claro. As primeiras roupas já têm donas: as duas bisnetas do coração.