Mostra conta com mais de 20 artistas da pintura, escultura, música, literatura, performance, audiovisual, fotografia e colagem
ANDRÉ GARCIA SANTANA
Resistência, diversidade e sexualidade se misturam na mostra “Viver É Um Ato Político: Nossa Arte é Nossa Voz”, aberta ao público a partir de sexta-feira (28), no Museu de Imagem e do Som de Cuiabá (Misc). As temáticas ganham contornos políticos em período de eleições e invadem o espaço com obras de artistas LGBTQI+. Convergindo com a proposta da Parada da Diversidade, realizada na última semana, eles lançam luz à luta de milhares de homossexuais, transexuais, lésbicas e bissexuais.
É o que explica o curador da exposição, Rodolfo Carli Almeida. “Vivemos um momento político problemático, então é essencial reforçar que esses artistas fazem parte da sociedade que, na maioria das vezes, consome nossos trabalhos sem saber que foram feitos por gays. Esse é o primeiro passo que estamos dando, então acredito que a partir do momento em que virem a qualidade do que será mostrado aqui, muitas barreiras vão cair.”
No total, são 24 artistas com obras em formato audiovisual, de música, performances, pintura, escultura, instalação, poesia, prosa, fotografia e colagem. Um dos pré-requisitos para a participação é que eles se reconhecessem como pessoas LGBTQI+ ou fizessem referencia a esta comunidade em suas produções. Um dos fotógrafos, por exemplo, fez uma pausa em seus típicos registros de igrejas, cerrado e pantanal, para desenvolver uma série exclusiva sobre diversidade.
Para a abertura, marcada para as 19h, o DJ Charles Pitter preparou um setlist com flashback das divas do universo gay. Ao longo dos 30 dias em exposição também será lançado o documentário Majur, que conta a história do indígena homossexual da etnia Bororo, que dá nome a obra. Chefe de comunicação da Aldeia Poboré, localizada no interior do Mato Grosso, ele é o responsável por fazer a interlocução do seu povo com a cidade.
A estes, somam-se nomes como Ronei Ferraz, Laila Dutra, Hend, Kyanaju, Luísa Lamar, Eduardo Geraldis, Marilia Beatriz, Marcus Vaz, Gonçalo Arruda e Sarah Mitch, A programação completa da “Viver é Um Ato Político” está disponível em sua página no Facebook. Lá também é possível conhecer um pouco do trabalho de cada um dos participantes, por meio de suas fichas de apresentação.
Por que LGBTQI+?
Com relação à importância de realizar um evento do tipo, designando-o como fruto do trabalho de LGBT’s, Rodolfo explica que a questão é reforçar a existência desses cidadãos, que ainda vivem rodeados de preconceito e desigualdade. “Muitos acham que não somos pessoas que formam opinião. Nós somos e estamos aí no mercado de arte, nas escolas, nos museus, nos teatros, nas repartições públicas, como todo mundo. O intuito é incluir, não separar.”
Neste contexto, o Misc reforça seu compromisso de abrigar as mais variadas formas de expressão, dando oportunidade para que diferentes artistas ocupem o espaço e promovam seus trabalhos. De acordo com o diretor do Museu, Cristóvão Gonsalves, esta mostra, em especial, é importante para a população encontrar esperança em momentos de ódio.
“Muitos LGBTQI+ estão sendo exterminados, mortos pelo preconceito, pela violência ou pelo suicídio. Nosso papel então é abrir este espaço para incentivar que eles resistam e para aqueles que ainda têm ressalvas possam conhecer seus trabalhos. A ideia é que a sociedade reconheça esta contribuição para a cultura regional”, finaliza.