Secretaria de Estado de Saúde oferece capacitações o ano todo; municípios devem mobilizar os profissionais de saúde
Caroline Lanhi | Gcom-MT
Aos quatro anos de idade, Jenyfer começou a apresentar algumas feridas pequenas pelo corpo, o que a princípio não causou preocupação na família. Alguns dias depois, as feridas não haviam cicatrizado e a pequena foi levada ao médico mais próximo, que receitou alguns remédios. Passaram-se meses, diferentes médicos a avaliaram e as feridas permaneceram. Era hanseníase, mas nenhum profissional tinha chegado a essa conclusão.
O diagnóstico veio em setembro de 2016, depois que uma pediatra de Jaciara indicou para a mãe dela, um especialista em Rondonópolis. Na consulta, o médico pediu que a menina fechasse os olhos e apertou um cotonete contra a ferida que tinha no rosto, mas ela não sentiu nada, nem dor, nem ardência, nem mesmo o cotonete. Para fechar o diagnóstico, o especialista solicitou um exame complementar e o resultado veio apenas para confirmar o que o exame de sensibilidade já havia mostrado.
Para capacitar cada vez mais os profissionais de saúde que trabalham diretamente com a população, por meio do Programa Saúde da Família (PSF), a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) oferece todos os anos capacitações para médicos, enfermeiros e demais profissionais que atuam nos municípios. O objetivo é garantir o diagnóstico precoce e preciso, evitando assim que a doença atinja outras pessoas.
De acordo com o coordenador estadual do programa de controle da hanseníase, Cícero Fraga, Mato Grosso é hoje o Estado que mais investe em capacitação de equipes multidisciplinares. A Caravana da Transformação, inclusive, é uma oportunidade para que os municípios treinem seus profissionais. Para 2017 estão previstas em torno de 15 capacitações, além das que serão realizadas durante as edições da Caravana.
Em Jaciara (144 km ao Sul de Cuiabá), foram três dias de orientações com especialistas na área, incluindo aula prática com atendimento à população. Nesta quinta-feira (26.01), os participantes chegaram a atender um caso avançado de hanseníase, um morador de Dom Aquino, município vizinho, com comprometimento dos membros e que precisa iniciar com urgência o tratamento.
Para a enfermeira de Alto Garças Alessandra Cajango os três dias de encontro foram importantes para reciclar o conhecimento. Coordenadora do programa de hanseníase naquele município, Alessandra afirma que treinamento nunca é demais. “Precisamos sempre nos capacitar, não apenas nós enfermeiros, mas também os médicos que atuam nas comunidades, pois o grande desafio é sempre o diagnóstico precoce”.
Casos em Mato Grosso
Jenyfer está entre os 2.400 casos novos de hanseníase registrados em 2016 em todo o estado. A estatística ainda é parcial, pois o sistema da SES-MT fecha, no mês de março, os dados do ano anterior. Em 2015, foram 3.040 casos novos, o que faz Mato Grosso ser considerado um estado hiperendêmico para hanseníase pelo Ministério da Saúde.
Segundo Fraga, hoje as pessoas em tratamento da doença totalizam 4.400 - o chamado registro ativo. Este procedimento pode durar seis meses ou um ano, dependendo do grau apresentado pelo paciente. O medicamento é gratuito, encontrado na rede pública de saúde.
Uma vez iniciado o tratamento, a transmissão da doença é interrompida e, se for realizado corretamente, o paciente se cura. Mas Cícero Fraga alerta que para garantir a cura também é preciso investigar todas as pessoas que têm contato íntimo com o paciente (pessoas com as quais ele mora e se relaciona diariamente), o que os especialistas chamam de busca ativa.
A doença é transmitida por via respiratória, mas depende de um contato permanente com o bacilo. “De nada adianta a pessoa tratar se no ambiente intradomiciliar se tiver outra pessoa doente e sem tratamento”, reforça Fraga. As pessoas ainda devem ficar atentas a outros sintomas, como cãibras, dor e formigamento de braços e pernas.
No caso da pequena Jenyfer, todos os familiares que moravam com ela passaram pelo exame dermato-neurológico, que consiste em: analisar se a pessoa apresenta manchas pelo corpo, caroços ou feridas, verificando a sensibilidade do paciente nesses locais, além de apalpar nervos dos braços. No fim, foi identificado que um dos membros da família também apresentava a doença. Eles iniciaram o tratamento juntos.
A menina já apresenta melhora significativa e tem acesso a todo o medicamento que precisa pela rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela vai concluir o tratamento em setembro deste ano, tudo acompanhado rigorosamente pela mãe.
Conforme o coordenador do programa de hanseníase do Estado, todo município tem autonomia para realizar as campanhas educativas, mas os médicos e demais profissionais precisam estar capacitados. Por isso, a SES-MT oferece cursos e treinamentos frequentemente aos municípios, que devem estar atentos a isso e mobilizar seus profissionais a fim de aprimorar cada vez mais o diagnóstico.